quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

A Pseudociência nas Universidades Brasileiras

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,in O Dragão da Garagem

A Pseudociência nas Universidades Brasileiras - Trabalho apresentado na Primeira Conferência Iberoamericana sobre Pensamento Crítico da revista Pensar, na Argentina, em setembro de 2005.

Por Widson Porto Reis


INTRODUÇÃO

A pseudociência chegou à última fronteira do pensamento crítico. Depois que os mapas astrológicos se espalharam pelas revistas femininas e o feng-shui e a radiestesia fincaram pé nas revistas de decoração; depois que a homeopatia tornou-se prática médica reconhecida ea memória da água virou citação comum nas revistas de ciência; depois que as correntes dee-mail convenceram os legisladores de um estado brasileiro que o uso de celulares deveriaser proibido nos postos de gasolina e enquanto o criacionismo se avizinha das aulas de ciência das escolas públicas de outro estado... agora a pseudociência e o pensamento mágico travestido de ciência chegaram à universidade.

O PROBLEMA
O fato não é realmente novo mas nunca antes se viu tantas atividades vindas de dentro da universidade destinadas a difundir e legitimar a pseudociência. A cada dia surgem na imprensa notícias de novos cursos de extensão, pós graduação e até mesmo graduação, pesquisas científicas, palestras e seminários promovendo as pseudociências.

A universidade privada já é terra arrasada há tempos. Com um estrito compromisso com o lucro, a universidade particular oferece ao cliente o que ele quiser. Assim pode-se encontrar cursos de pós-graduação e de extensão em praticamente qualquer pseudociência que se imagine: “Astrologia Clínica” na respeitada Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo e "Astrologia Aplicada na Gestão de Pessoas" na UBC; “Terapias Naturais e Holísticas” na Universidade Castelo Branco; “Feng-Shui” na Universidade Veiga de Almeida; “I-Ching” na Faculdade Cândido Mendes; “Florais de Bach” na Faculdade Helio Afonso (FACHA) e na Estácio de Sá (UNESA); Reflexologia na UNISUL... só para citar uma minúscula fração dos cursos oferecidos.

Mas é quando a pseudociência passa a ser difundida com o dinheiro público que a situação se agrava. A Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), por exemplo, ministra regularmente cursos de extensão em Reiki – técnica oriental de cura com as mãos – Aromaterapia e Mandalas. Os cursos são oferecidos pelo CCSA, Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Já a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), certamente uma das mais conceituadas universidades do país, é a instituição pública brasileira com a maior oferta de cursos de extensão para a formação de profissionais esotéricos: “Terapia Floral”, “Fisiologia Chinesa e Práticas Energéticas”, “Astrologia, Corpo e Saúde“, “Cromoterapia” e especialmente o “Ecologia da Mente”, guarda chuva místico sob o qual se abrigam Radiestesia, I-Ching, Feng-Shui e Tarô. Para ser honesto, nenhum dos cursos citados causaria estranheza no triste cenário atual não fosse o fato de estarem catalogados na área de “Ciências da Saúde” e serem oferecidos pela Divisão de Ensino, Pesquisa e Extensão do Hospital Escola São Francisco de Assis. De fato, um dos projetos em andamento neste hospital universitário é a implantação destas técnicas no tratamento dos pacientes, buscando a “redução de custos hospitalares e melhoria da qualidade de vida e saúde (...) aprofundando e construindo o conhecimento das terapias naturais numa perspectiva multidisciplinar”.

Depois de ganhar os cursos de extensão, a pseudociência chegou a graduação. Já se espalham pelo país os cursos superiores em naturologia. A princípio a proposta parece inatacável. Afinal, seria muito bem vindo um profissional que pudesse prescrever tratamentos naturais reconhecidamente eficazes, separando-os de inócuos, e às vezes perigosos, curandeirismos. Mas como todo cético escaldado sabe, o rótulo de terapias naturais geralmente é uma fachada para as velhas esotéricas técnicas “milenares”. Realmente, uma análise mais cuidadosa do programa desses cursos revela o que se espera: radiestesia, florais de Bach, cromoterapia e reflexoterapia são algumas das disciplinas que um bom naturólogo terá em seu currículo.

Além das terapias naturais e artes divinatórias, também a religião vem ganhando espaço na universidade, o que não seria problema nenhum desde que a ocupação não se desse no território das ciências. Uma destas iniciativas está na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, UFRGS, que criou em 2001 o NIETE - Núcleo Interdisciplinar de Estudos Transdisciplinares Sobre Espiritualidade, atualmente coordenado pela a professora Malvina do Amaral Dorneles. Uma das atividades recentes do NIETE foi estabelecer uma parceria com a Sociedade Brasileira de Apometria para a formação de um grupo de estudos em apometria (GEPEA) a fim de “contribuir para a promoção da saúde da população de nossa comunidade (...) inserindo-se nas discussões contemporâneas da Organização Mundial da Saúde”. Bem, para quem não conhece, a apometria é uma técnica espírita, controversa mesmo entre os adeptos desta religião, que consiste em aplicar “pulsos magnéticos concentrados e progressivos no corpo astral do paciente”. Cursos de apometria incluem técnicas de desobssessão (exorcismo) e defesa contra vampirismo e espíritos parasitas. Outro filhote do NIETE é o Grupo Psi-Alfa-Ômega, coordenado pelo professor da UFGRS, Cícero Marcos Teixeira. Um das principais linhas de pesquisa do grupo é a Transcomunicação Instrumental (TI), a arte de receber mensagens do além através de ondas de rádio ou televisão. Quem pratica, jura que pode captar mensagens dos mortos nos ruídos de velhos rádios valvulados ou ver espíritos em difusas imagens de televisão; um update do velho mito das mensagens subliminares em discos de rock. "Queremos contribuir em termos acadêmicos para a compreensão do ser humano, uma vez que ele não vive somente no plano físico", diz Cícero, que também é autor do livro “Internautas do Além”.

Já na UNIFESP, o biólogo Ricardo Monezzi defendeu sua dissertação de mestrado: “Avaliação de efeitos da prática do Reiki sobre o sistema imunológico de camundongos machos”. No estudo, um terço do grupo de ratos recebia tratamento por impostação de mãos, outro terço tinha uma luva colocada sobre as gaiolas (para simular a impostação) e o restante não recebia nenhum tipo de tratamento. Ao final do experimento, Monezzi detectou um aumento do número de linfócitos e monócitos dos ratos submetidos ao tratamento. O trabalho já seria controverso o bastante sem a afirmação non sense com que foi divulgado por Monezzi na imprensa: “O corpo humano é um emissor de energias que ainda não foram qualificadas, mas exames como o eletrocardiograma e eletroencefalograma mostram que existem”. O estudo de Monezzi, mesmo sem ter sido replicado por nenhum outro pesquisador, é utilizado pelo GenteComSaude, Grupo de Meditação e Técnicas Complementares em Saúde, da UNIFESP, na promoção do curso de extensão do Centro de Aperfeiçoamento em Saúde: “Gerenciamento das doenças através do REIKI/impostação das mãos”, do qual, aliás, Monezzi é professor.

O caso UnB
Neste quadro, a Universidade de Brasília certamente representa o caso mais grave. Esta prestigiada instituição, sediada na capital do País, criou em 1989 o Núcleo de Estudos de Fenômenos Paranormais (NEFP), ligado ao CEAM - Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares. O que parecia uma interessante iniciativa acabou se revelando um verdadeiro cavalo de tróia, com o qual astrólogos, radiestesistas, ufólogos, médiuns, entortadores de colheres e outros tantos vêm invadindo a academia, utilizando-a para difundir suas crenças pessoais.

O coordenador do NEFP é o engenheiro civil e astrólogo, Paulo Celso dos Reis Gomes. Paulo Celso é autor do trabalho “Verificação dos efeitos das posições dos astros na eclíptica com respeito à formação do homem e seu cotidiano”. Na pesquisa, os astrólogos (os próprios autores) confeccionaram o mapa astral de 100 voluntários conhecendo apenas as datas e locais de nascimento de cada um. Depois de receber seu perfil astrológico, os voluntários preencheram um questionário onde pontuaram, numa escala de 1 a 5, o grau de acerto ou relevância de cada uma das características levantadas. Somente 40 dos 100 questionários foram analisados; destes, os pesquisadores verificaram o impressionante índice de 95% de acertos.

É evidente que a única coisa que o estudo de Paulo Celso mediu foi a capacidade que as pessoas têm de se identificar com perfis vagos, especialmente os positivos e lisonjeiros, sobre si mesmas – o velho conhecido Efeito Forer. Esta falha grosseira de metodologia, contudo, não ficou no caminho do NEFP, que assim mesmo divulgou o trabalho nos maiores meios de comunicação do país. O astrólogo Francisco Seabra, também membro do NEFP, chegou a declarar à revista ISTOÉ, segunda maior revista de notícias do país: “A universidade faz uma revolução ao reconhecer que a astrologia é uma ciência”. A bisonha afirmação só revela o desconhecimento de Seabra sobre o que é ciência.

Um dos objetivos confessos do NEFP é trabalhar para a “sistematização da Astrologia e sua inclusão no rol das ciências oficiais”. Neste esforço já se encontra em sua quarta edição o Curso de Astrologia para Pesquisadores, promovido pela UnB e coordenado por Hiroshi Masuda, outro membro do NEFP. O curso tem uma missão bem definida: “formar astrólogos pesquisadores que venham a comprovar, de forma racional, os fundamentos da astrologia”.
Firme em sua missão, recentemente o NEFP conseguiu aprovar a realização do “1o Encontro Nacional de Astrologia”, ocorrido em agosto deste ano. O tema central do encontro foi a capciosa pergunta “Até que ponto a astrologia deve ser entendida como ciência?”. Francisco Seabra declarou a imprensa meses antes: “Vamos debater pesquisas que têm contribuído para aproximar o conceito astrológico do conceito científico”. Como se vê, à rigor não teria sido um debate muito amplo...

O vice coordenador do NEFP é físico PhD Álvaro Luis Tronconi. Pródigo em alegações que desafiam o bom senso, Tronconi já entregou à imprensa pérolas como: “Queremos saber por que a força do pensamento desorganiza a configuração dos átomos dos metais e se ela pode ser identificada e calculada como se faz com a energia elétrica, que não conhecemos por inteiro, mas todos acreditam que existe e a usam”, e “Se podemos melhorar nossa oratória, também podemos dominar a bioenergia e usá-la para nos teletransportar ou curar doenças”.
O objeto de estudo de Tronconi é o famoso paranormal brasileiro Luiz Carlos Amorim que, assim como o paranormal ícone dos anos 70, Uri Geller, exercita seus poderes em talheres e ganha a vida como oráculo de políticos, atores e qualquer um que possa pagar seus gordos cachês. Na verdade Tronconi e os demais pesquisadores do NEFP parecem considerar as habilidades paranormais de Amorim suficientemente demonstradas, já que o convidaram em 2003 a apresentar seus poderes durante uma palestra na UnB. Segundo a assessoria de imprensa da UnB, a demonstração foi um fiasco. A platéia, constituída em sua maioria pelos estudantes da universidade, compareceu decidida a desmascarar o paranormal e conseguiram fazê-lo perder a compostura (e aparentemente os poderes) em mais de uma ocasião - um interessante caso em que os alunos demonstraram mais senso crítico que seus professores. Como seria de se esperar, também este pequeno obstáculo de credibilidade não ficou no caminho do NEFP, que manteve agendado o curso “Despertando o Eu Paranormal” que Amorim ministraria na universidade. (O valor de aproximadamente 100 dólares que o interessado deveria desembolsar pelo curso pode ser visto como um grande investimento, já que aumentar a sorte em bingos e loterias é uma das artes que Amorim ensina em seus cursos.)

A relação de Luiz Carlos Amorim com o NEFP vem de longa data. O ex-coordenador do Núcleo, o psicólogo Joston Miguel Silva, estudou durante oito anos 13 pessoas que diziam possuir alguma habilidade paranormal, entre eles Amorim e Thomas Green Morton, outro paranormal brasileiro badalado entre os famosos. Dos 13, o pesquisador da UnB confirmou as habilidades de cinco. Outros cinco tiveram seus poderes parcialmente comprovados e sobre os três restantes não houve nenhuma conclusão. A técnica de Joston para validar os paranormais? a kirliangrafia, em que se usa uma Máquina Kirlian para fotografar a aura do sujeito.

O interesse do vice-coordenador do NEFP, pelo estudo da paranormalidade nasceu de uma marcante experiência pessoal. Tronconi atribui a cura de uma hérnia-de-disco ao poder mental da enfermeira que o tratou utilizando passes de mão. Arrebatado pela experiência, Tronconi hoje é coordenador e professor do curso de extensão “Ensaios Parapsíquicos”, promovido pela UnB. O programa do curso é um pout pouri esotérico envolvendo viagem astral, regressão a vidas passadas, kirliangrafia, chacras, interpretação de sonhos, retrocognição e outros assuntos que nos fazem imaginar como são as aulas de física que Tronconi leciona na universidade.

Onde está o limite?
Criticar qualquer tipo de pesquisa na universidade é caminhar em uma linha muito tênue. Uma escorregadela e se atravessa para o lado do preconceito e do patrulhamento da liberdade acadêmica. Por isso é importante responder muito claramente: por quê a presença da pseudociência na universidade é tão nociva?

Como ponto de partida é preciso deixar claro que nenhum tema jamais deve ser considerado tabu na universidade. Muito pelo contrário. As pesquisas acadêmicas sobre as pseudociências são o necessário ferramental para o cético que promove a razão e o pensamento crítico. Afinal não se deve esperar que as alegações da astrologia e outras artes divinatórias, de diversas terapias alternativas e de inúmeros fenômenos paranormais sejam descartadas somente por desafiar o senso comum. Pesquisar é preciso.

O que torna o quadro atual preocupante é que o que se está fazendo em grande parte dentro da universidade não é somente pseudociência, é ciência ruim; ciência ruim em nome da legitimização da pseudociência. Os astrólogos, ufólogos, terapeutas alternativos e religiosos que vêm utilizando o nome da universidade em suas pesquisas não estão em busca da verdade, mas apenas da validação, custe o que custar, de suas crenças pessoais. Estes pesquisadores invertem o caminho que devem trilhar as novas idéias e levam suas controversas pesquisas aos meios de comunicação leigos antes de fazê-las chegar aos periódicos científicos, onde poderiam ser avaliados por seus pares. Na verdade, bem poucos destes trabalhos chegam a ver a luz de um revista peer-review. Trabalhos com resultados extraordinários, que se verdadeiros fossem obrigariam a ciência a rever seus conceitos mais básicos e introduzir novas entidades, forças e “energias”, são divulgados entusiasticamente sem a devida análise crítica dos resultados e sem que as potenciais fontes de erros sejam apontadas. Citações bibliográficas são seletivas e simplesmente ignoram toda a massa de dados, geralmente abundante nestes casos, que se opõem à visão dos autores. Acima de tudo não há replicação dos trabalhos; um único resultado favorável é considerado suficiente para confirmar as hipóteses do ansioso autor – muito pouco para quem está dirigindo na contra-mão do conhecimento estabelecido. O que estes pesquisadores estão fazendo é o que Richard Feynman chamava de “ciência de culto a carga”: algo que usa a linguagem científica, que segue os preceitos básicos do método científico e que até mesmo parece ciência – pelo menos tanto quanto um boneco parece um homem – mas no qual falta um elemento fundamental: integridade científica.

Mas a universidade também contribui para a legitimização do pensamento mágico quando serve de fórum para debate com a pseudociência. Tome-se como exemplo a recente palestra sobre “criacionismo científico” (uma contradição a partir do título) ocorrida na Universidade Federal do Estado de São Paulo (UNIFESP) sob (tímidos) protestos da comunidade científica. Sabe-se que para o criacionismo não interessa o resultado do debate, mas apenas ser debatido; o simples fato de ocupar o palanque em uma grande universidade e ser ouvido pela elite intelectual do país já empresta ao movimento criacionista a imagem de cientificismo que ele tanto busca para se colocar como alternativa ao ensino da evolução. Novamente não se trata de impor nenhum tipo de censura ou de “inquisição sem fogueiras” - como rapidamente protestam os que se consideram censurados ou perseguidos. Mas permitir que tudo seja dito em nome da ciência e esperar que as evidências falem por si mesmas, decididamente não funciona em um país onde grassa a ignorância científica e onde a mídia, vilã e vítima, noticia apenas a parte sensacional da notícia. Além disso, mesmo o mais ferrenho defensor da liberdade irrestrita de expressão concordará com o cético mais radical que há uma linha em algum lugar entre, por exemplo, a quiromancia e a apuncultura. Onde está a linha descobre-se checando-se as evidências e não emprestando o púlpito à primeira cigana interessada. E evidentemente ninguém está mais apto a investigar evidências do que a universidade.

Por fim é preciso lembrar que a crença em certas pseudociências traz um ônus para a sociedade. Este ônus pode não ser óbvio enquanto a astrologia fica restrita aos inocentes horóscopos das páginas dos jornais e o feng-shui às revistas de decoração. Mas e quando mapas astrológicos estiverem sendo usados em entrevistas de emprego ou nas salas dos tribunais? Alguém gostaria de perder um emprego ou uma causa judicial por causa da hora em que foi retirado da barriga de sua mãe? E quando pêndulos estiverem auxiliando os diagnósticos médicos e a imposição de mãos for prática comum nos hospitais públicos, no lugar dos tratamentos convencionais? E quando tudo isso estiver acontecendo porque a universidade deu a astrólogos e radiestesistas a mesma credibilidade profissional de engenheiros e médicos? Quanto tempo ainda temos até que cirurgias espirituais, devidamente abalizadas pelas pesquisas “científicas” da academia, sejam cobertas pelos planos de saúde? É bom lembrar que no Brasil, a homeopatia já chegou lá.

A CAUSA
O Brasil tem um quadro desanimador no que diz respeito ao combate à pseudociência. O movimento cético no país é um fenômeno relativamente recente, 100% amador e que não surgiu dentro da universidade e sim na internet em torno de grupos de discussão e uns poucos sites. Sendo um grupo formado em sua maioria por jovens ainda sem credenciais científicas, o Movimento Cético Brasileiro, se podemos chamá-lo assim, sofre por falta de credibilidade, o que até agora tem lhe permitido atingir apenas de raspão a mídia. Já a comunidade científica nacional está muito mais ocupada em concorrer pelos minguados recursos oficiais e lutar contra as dificuldades diárias de infra-estrutura, sucateamento de laboratórios, cargas horárias excessivas e toda a sorte de problemas, do que em combater voluntariamente a penetração da pseudociência em seu quintal.

Mas não faltam apenas as pessoas para combater o pensamento mágico, faltam os meios de divulgação. Dizer que as revistas de ciência no Brasil são tolerantes com as pseudociências é dizer pouco. Dizer muito seria chamar de “revistas de ciência”, revistas que já produziram suplementos especiais sobre astrologia e feng-shui. Sobre este tema Allan Novaes em seu artigo “Ciência em crise, jornalismo em queda?” mostra que de 2000 a 2004, 75% das capas da revista Superinteressante, maior revista de seu gênero no Brasil, foram sobre ciências sociais ou humanas e 42% foram de temas religiosos, místicos ou pseudocientíficos. Aqui, a crise do jornalismo científico se confunde a tal ponto com a questão da infiltração da pseudociência nas universidades que fica difícil distinguir causa e efeito.

Há outros motivos por que pseudociências e misticismos encontraram um terreno fértil nas universidades. O Brasil é um país que respira religiosidade, e onde existe uma mistura, talvez única no mundo, de religiões, cultos e seitas. Projetos de pesquisa e extensão como os que a UnB, UFRJ e UFRGS vêm realizando são populares porque mostram uma aproximação entre ciência e espiritualidade que muitos acreditam ser saudável. A idéia de que a ciência deveria dar as mãos à religião em uma espécie de “retorno às origens”, e que deste casamento forçado entre o materialismo e o espiritualismo nasceria o melhor dos dois mundos é muito promovida pelas ciências humanas e bastante apreciada pelo público leigo. Condenar esta promiscuidade científico-místico-religisosa, modernamente camuflada por palavras como “interdisciplinaridade” e “multidisciplinaridade”, tem soado cada vez mais politicamente incorreto, e os cientistas não raro o evitam. Some-se a este quadro a natureza do povo brasileiro, hábil em conciliar o inconciliável – por exemplo, no sincretismo religioso que mescla os cultos africanos com o cristianismo – e sua aversão a qualquer tipo de confrontamento que possa ser levemente confundido com intolerância religiosa.

O que nos leva a maior de todas as causas para disseminação da pseudociência nas universidades: o Relativismo. O Relativismo é a idéia de que todos os saberes são apenas questão de opinião, fruto do seu contexto histórico e social. O relativista acredita que todos os pontos de vista são igualmente válidos e vê a ciência apenas como mais uma maneira de representar o mundo, em pé de igualdade com a não-ciência. A verdade científica, nesta onda relativista, é vista apenas como um produto social, uma questão democrática, de consenso da maioria. Desta maneira as teorias mais exóticas tornam-se irrepreensíveis e passam a ser escudadas por bordões como: “Você tem a sua opinião, eu tenho a minha” ou “tudo é relativo”. Novamente torna-se uma imperdoável intolerância criticar qualquer saber, por mais primitivo e desligado da realidade que seja. Francamente impulsionado pelas ciências humanas e sociais, esse relativismo paralisante não reconhece como final nenhum conhecimento científico (o que rigorosamente falando não é mesmo), mas tampouco descarta nenhuma alegação extraordinária; tudo pode ser, como pode não ser. Se a ciência ainda não comprovou a eficácia daquela “técnica milenar”, o problema é da ciência; dê-lhe mais alguns milênios e ela chegará lá.

CONCLUSÃO (temporária)
Não se propõe com este trabalho nenhum tipo de censura à produção universitária, mesmo em se tratando de fenômenos supostamente paranormais, místicos ou esotéricos; pelo contrário este trabalho propõe o acirramento da discussão sobre estes fenômenos, mas definindo o escopo e o valor da Ciência, que parece ter se esmaecido em algum lugar do passado.

Acima de tudo este trabalho propõe o estabelecimento de políticas vindas de dentro dos comitês universitários, que restringam o impacto de pesquisas levianas, sejam elas naquilo que hoje se considera pseudociência ou não. Este trabalho propõe que núcleos de pesquisa de borda, como o NEFP e o NIETE, sejam julgados periodicamente por sua produção científica, publicada em revistas indexadas e que isso determine seu subsidiamento pela universidade pública; isto sempre foi sinônimo de pesquisa de qualidade em qualquer área e a pesquisa em fenômenos paranormais não deve ser exceção. E finalmente este trabalho sugere que cursos de extensão e pós graduação em terapias médicas alternativas promovidas pelas ciências da saúde, sejam julgados e aprovados por comitês multidisciplinares (similares aos comitês de ética normalmente requeridos para aprovar estudos que trabalham com populações) que possam atestar a cientifidade e segurança das técnicas ensinadas. No mínimo isso servirá para mover estas terapias alternativas para fora do escopo da ciência.

Widson Porto Reis é Engenheiro Metalúrgico, mestre em Ciências dos Materiais e exprofessor
do Instituto Militar de Engenharia.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

CPERS ADVERTE: EDUCAÇÃO EM PERIGO NO RS



28/01/2008 Escrito por Marco Weissheimer - RS URGENTE


O Centro de Professores do Estado do RS (CPERS/Sindicato) denunciou hoje o aprofundamento do sucateamento da educação pública gaúcha. Entre os novos motivos de preocupação para a comunidade escolar, o CPERS cita o fechamento de centenas de turmas no estado, o fim da Educação de Jovens e Adultos (EJA) em muitas escolas e a introdução de programas de educação privados em escolas públicas. Na avaliação do sindicato, essas medidas que vêm sendo colocadas em prática pela Secretaria Estadual de Educação estão articuladas com uma estratégia de comprometer a qualidade do ensino público, com o objetivo de municipalizar e, em seguida facilitar, a sua privatização. O CPERS traçou uma cronologia das medidas tomadas até aqui pelo governo Yeda Crusius (PSDB) na área da educação:

“Primeiro veio o corte de 30% nos recursos da Educação, a suspensão das obras de reforma nas escolas, a suspensão de licitações e o fim da gestão democrática – mesmo contrariando a lei. Isso produziu como conseqüência a falta de professores e o sucateamento das estruturas das escolas. Buscando resolver o problema de falta de professores a Secretária Mariza Abreu mandou fechar bibliotecas, laboratórios de ciências e de informática, e acabou com a orientação pedagógica (Orientadores Educacionais e Supervisores Escolares). Com isso, durante todo o ano de 2007, o aluno do ensino público dispunha apenas da estrutura de sala de aula. Para aprofundar o sucateamento e ao mesmo tempo ainda suprir a falta de professores, a secretária decidiu fazer a enturmação e a multisseriação. Aumentando o número de alunos por turma e juntando séries diferentes, a secretária tenta fazer sobrar professores”.

A entidade também critica a implantação de programas de educação privados em escolas públicas (Programas "Entre Jovens" e "Jovens do Futuro)", convencendo diretores com compensações na infra-estrutura e no apoio pedagógico (obrigações do Estado). Para o CPERS, o ano de 2008 será ainda mais difícil que o de 2007. “Só em Porto Alegre foram fechadas mais de 1.300 turmas. Em Bagé foram fechadas quatro escolas no turno da noite. Dezenas de escolas em todo o estado tiveram suas turmas de EJA canceladas. E esta semana a secretária foi aos jornais convocar os prefeitos para assumirem a educação infantil através da municipalização”. E adverte: “Esta prática de amontoar alunos nas salas de aula vai acabar com a qualidade que a Educação Pública Gaúcha ainda tem, pois os professores ficarão impossibilitados de fazer um acompanhamento individualizado aos alunos com dificuldades”.

Escrito por Marco Weissheimer às 21h17

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Intelectuais lançam manifesto contra a condenação de Emir Sader


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Intelectuais brasileiros lançaram nesta quarta-feira (1º) um manifesto de “veemente repúdio” contra a condenação despropositada do professor Emir Sader, por este ter escrito um artigo em que criticou declarações preconceituosas e “racistas” do senador Jorge Bornhausen (PFL-SC).
No manifesto, que é encabeçado por Antonio Cândido e está aberto a adesões, os abaixo-assinados classificam a decisão judicial como um ataque ao direito de livre-expressão e à autonomia universitária – já que o juiz também determinou a demissão de Sader da universidade pública em que dá aulas.
“Ao impor a pena de prisão e a perda do emprego conquistado por concurso público, é um recado a todos os que não se silenciam diante das injustiças”, diz o texto.
Leia abaixo a íntegra do manifesto:

A sentença do juiz Rodrigo César Muller Valente, da 11ª Vara Criminal de São Paulo, que condena o professor Emir Sader por injúria no processo movido pelo senador Jorge Bornhausen (PFL-SC), é um despropósito: transforma o agressor em vítima e o defensor dos agredidos em réu.
O senador moveu processo judicial por injúria, calúnia e difamação em virtude de artigo publicado no site Carta Maior (http://cartamaior.uol.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=2171), no qual Emir Sader reagiu às declarações em que Bornhausen se referiu ao PT como uma "raça que deve ficar extinta por 30 anos". Na sua sentença, o juiz condena o sociólogo "à pena de um ano de detenção, em regime inicial aberto, substituída (...) por pena restritiva de direitos, consistente em prestação de serviços à comunidade ou entidade pública, pelo mesmo prazo de um ano, em jornadas semanais não inferiores a oito horas, a ser individualizada em posterior fase de execução". O juiz ainda determina: “(...) considerando que o querelante valeu-se da condição de professor de universidade pública deste Estado para praticar o crime, como expressamente faz constar no texto publicado, inequivocamente violou dever para com a Administração Pública, motivo pelo qual aplico como efeito
secundário da sentença a perda do cargo ou função pública e determino a comunicação ao respectivo órgão público em que estiver lotado e condenado, ao trânsito em julgado”.
Numa total inversão de valores, o que se quer com uma condenação como essa é impedir o direito de livre-expressão, numa ação que visa intimidar e criminalizar o pensamento crítico. É também uma ameaça à autonomia universitária, que assegura que essa instituição é um espaço público de livre pensamento. Ao impor a pena de prisão e a perda do emprego conquistado por concurso público, é um recado a todos os que não se silenciam diante das injustiças.
Nós, abaixo-assinados, manifestamos nosso mais veemente repúdio.
(Os que desejarem assinar cliquem, por favor, em http://www.petitiononline.com/emir/petition.html).

Leia mais sobre a notícia da condenação de Emir Sader na Ag ência Carta Maior

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

O Guia Cético para assistir a "O Segredo" - Parte 3


,in O Dragão da Garagem


, por




Este é o derradeiro final de "O Guia Cético para Assistir a 'O Segredo'". Talvez antes de continuar você queira conferir as partes 1 e 2.


00:44:15



"Imaginação é tudo. Ela é a prévia daquilo que a vida atrai."

Albert Einstein

Esta frase de Einstein de fato está disseminada pela Internet, então não se pode acusar Rhonda Byrne de tê-la inventado ou retirado do contexto como as outras. Mas assim como a frase de Emerson que abriu o filme, esta também não é encontrada em nenhum dos livros ou discursos do físico. Considerando-se ainda que o estilo é um pouco moderno demais, o mais provável é que esta seja mais uma das inúmeras citações bastardas que fazem parte do folclore relacionado a Einstein.

00:58:55

"É importante reconhecer que nosso corpo é realmente o produto dos nossos sentimentos. (...) Nós conhecemos o efeito placebo: o placebo é alguma coisa que supostamente não tem nenhum efeito em nosso corpo, como uma pílula de açúcar. Você diz ao paciente que ele é uma droga verdadeira e o que acontece é que o placebo tem o mesmo afeito, se não maior às vezes, do que o medicamento que seria indicado. Assim eles descobriram que a mente humana é o maior fator de cura na arte de curar."

Surpreendentemente, neste ponto "O Segredo" quase acerta. Se não fosse pelo que está tentando sugerir nas entrelinhas, John Hagelin teria finalmente acertado a mão.

Realmente o placebo apresenta resultados formidáveis em algumas situações: aparentemente funciona em cerca de 30% dos casos de dor, em 40% dos casos quando o paciente acha que está tomando Viagra e em até 50% quando usado no lugar do Prozac (alguns pesquisadores chegam a dizer que todas as drogas contra a depressão funcionam pelo efeito placebo).

John Hagelin portanto está certo em uma coisa: a disposição mental de um paciente, suas esperanças e crenças, são sim um fator poderoso em qualquer tratamento médico. Se bem que isso nunca foi nenhum Segredo...

Agora vêm os "poréns".

Porém Um: é muito difícil dizer qual a extensão real do efeito placebo. Existe um monte de doenças que se curam espontaneamente, ou que vão e vêm em ciclos, como alergias, dores musculares, enxaquecas, crises de depressão e outras (existem doenças que o paciente nem sequer tem, são fruto de sua imaginação, como no caso extremo dos hipocondríacos). Outras doenças têm um componente psicológico tão grande que se resolvem só com um pouco de atenção e cuidado genuíno do médico (coisa cada vez mais rara) ou com o ritual mágico de um curandeiro (coisa cada vez mais comum). E na maioria das vezes o que placebo faz é estimular uma mudança saudável de hábitos e um empenho maior no tratamento. A cura nesse caso não vem do placebo mas da confiança que se deposita nele.

Porém Dois: em muitos casos o placebo simplesmente não funciona. Trate um diabético com soro fisiológico em vez de insulina e ele definhará, por maior que seja sua crença no tratamento; dê um anticoncepcional de farinha a uma mulher e ela terá as mesmas chances de engravidar do que outra que não tomou nada.

Porém Três: o efeito do placebo nunca é maior do que o efeito do medicamento de verdade. É justamente assim que se sabe quando uma droga funciona mesmo, comparando-a com o placebo. Se chá de catuaba misturado com pó de chifre de rinoceronte incrementa a ereção de alguém tanto ou menos do que uma pílula azul de açúcar então a beberagem também é um placebo.


01:00:54

"Nós temos milhares de doenças lá fora. Elas são apenas o elo fraco da corrente. Elas são todas o resultado de uma coisa apenas: stress. Quando você coloca tensão na corrente você coloca tensão no sistema e um dos elos se parte. Nossa fisiologia cria doenças para nos dar feedback, para nos fazer saber que estamos desbalanceados, que não estamos amando, que não somos gratos. Por isso os sinais corporais e sintomas [de uma doença] não são algo terrível.

A questão que é freqüentemente perguntada é: quando uma pessoa manifesta uma doença no templo do seu corpo, ela pode ser curada através do pensamento positivo? A resposta é absolutamente sim!"

Realmente existem evidências bastante fortes mostrando relação entre stress e doenças como depressão, síndrome do pânico, asma, herpes, doenças do coração, obesidade, problemas estomacais etc. Mas daí a culpar o stress por todas as disfunções psicológicas, síndromes, infecções, viroses, doenças degenerativas, congênitas etc é um exagero que não têm respaldo da literatura científica.

Pior que dizer que todas as doenças são causadas por stress é afirmar que desenvolvemos doenças por sermos mal agradecidos ou por não estarmos enamorados com o Universo. Ninguém precisa pensar muito para ver que há alguma coisa errada nessa idéia. Afinal bebês recém nascidos, novos demais para serem tanto estressados quanto ingratos, também adoecem. De fato, a maior incidência de câncer em crianças ocorre entre zero e quatro anos de idade.

E para quem insistir nessa idéia eu tenho uma novidade: animais também ficam doentes! Galinhas ficam gripadas, gatos têm diabetes, peixinhos dourados têm cálculo renal, chimpanzés contraem HIV da mesma maneira que a gente, e a taxa de incidência de câncer entre os cães é quase a mesma que entre os humanos. Tudo bem que um animal pode ficar tão ou mais estressado que um homem, mas acho que ninguém acredita que a fisiologia canina cria doenças para que os cães saibam que precisam ser mais gratos por sua ração.

01:02:36

"Nós nascemos com um programa básico, chamado auto-cura. Se você tem um ferimento ele sara; se você pega uma infecção seu sistema imunológico entra em ação, elimina aquela bactéria e se cura. O sistema imunológico é feito para se curar. A doença não pode viver num corpo que está num estado emocional saudável. Seu corpo está criando milhões de células a cada segundo. Na verdade, partes inteiras do seu corpo são trocadas literalmente a cada dia. Outras partes levam alguns meses, ou anos para serem trocadas, mas dentro de alguns poucos anos nós temos um corpo inteiramente novo!"

Não, nosso corpo não foi feito para se curar e não, você não tem um corpo novo a cada temporada.

Mesmo que uma vida emocionalmente regrada operasse milagres isso não poderia curar nem doenças degenerativas do cérebro, como o mal de Alzheimer, nem distrofias musculares, uma vez que, diferentemente das células de outros tecidos, as células do sistema nervoso e as dos músculos nunca se renovam (é verdade que estudos mais novos têm mostrado que a neurogênese é sim possível em certas regiões específicas do cérebro, ao contrário do que se acreditava, mas isso não quer dizer que estas células têm um ciclo de renovação como o filme afirma).

Quanto à alegação de que pessoas emocionalmente saudáveis não ficam doentes, existem tantas maneiras de testá-la que é até difícil escolher uma. Nós poderíamos por exemplo fazer com que a Pessoa Mais Feliz do Mundo ingerisse uma cápsula com o vírus Ebola tratando-a unicamente com musicais da Disney, tipo o "High School Musical". Como normalmente menos de 10% das pessoas infectadas pelo Ebola sobrevive, será relativamente fácil verificar se a felicidade pode realmente expulsar o vírus.

01:03:49

"Pensamentos alegres levam a uma bioquímica alegre, um corpo mais feliz, mais saudável. Pensamentos negativos, stress, degradam seriamente o corpo e o funcionamento do cérebro."

O que é uma bioquímica alegre? Só uma figura de linguagem infeliz, do tipo que abunda na Superinteressante, ou realmente enzimas saltitantes cantarolando "Age of Aquarius" enquanto processam carboidratos no ciclo de Krebs? Exagero meu talvez, mas não se esqueça que John Hagelin estava naquele outro filme, que mostrou ao mundo células dançando polka numa festa de casamento...

Até onde se sabe pensamentos alegres não disparam alterações bioquímicas no corpo, em vez disso eles estimulam o cérebro a produzir certas substâncias associadas ao prazer como dopamina e endorfinas, que têm o feliz efeito de provocar alívio de dores e atenuação dos sintomas de algumas doenças.

É claro que pensamentos negativos não são bons para ninguém, mas sozinhos não podem ser culpados por provocar doenças. Se fosse assim os hipocondríacos -- pessoas que pensam o tempo todo que estão doentes e não acreditam quando o médico lhes diz o contrário -- manifestariam doenças reais e não imaginárias, como é quase sempre o caso.

01:04:09

"Remova o stress fisiológico do corpo e o corpo faz o que ele foi projetado para fazer: ele se cura."

A não ser que você acredite que o homem foi feito de barro no sexto dia de uma semana bem movimentada, esqueça essa idéia de que nosso corpo vem com um mecanismo de cura universal projetado por um designer cósmico.

Repetindo: nosso corpo não foi feito para se curar. O único motivo das pessoas hoje não morrerem aos milhões com um simples resfriado é porque... as pessoas já morreram aos milhões no passado com um simples resfriado! É assim que funciona a evolução pela seleção natural: aqueles que sobrevivem a uma praga por serem naturalmente resistentes a ela têm uma boa chance de passar esta imunidade aos seus descendentes. Esta é a sobrevivência do mais apto, de que falava Darwin.

Por exemplo, os índios da América não morreram como moscas quando os europeus invadiram suas praias por causa de uma crise de depressão coletiva (que seria até justificável se eles soubessem que seriam convertidos ao catolicismo à ferro e a fogo e depois de alguns séculos estariam vendendo miçangas nas estradas....). Morreram porque foram expostos a novos tipos de vírus -- principalmente Influenza (o vírus da gripe) e varíola -- para os quais não tinham ainda imunidade (sobre isso recomendo o excelente livro "Armas, Germes e Aço" de Jared Diamond). O mesmo aconteceu mais tarde com a gripe espanhola, que matou 5% da população do planeta no início do século. Se um designer planejava nos projetar resistentes a todas estas doenças desde a versão 1.0 ele fez um péssimo trabalho de engenharia...

01:11:01

"Uma das questões que eu recebo quase todo o tempo e que provavelmente está na sua cabeça agora é 'bem, se todo mundo usa o segredo e todos tratam o universo como um catálogo nós não vamos acabar com tudo? se todo mundo for ao caixa ao mesmo tempo isso não vai quebrar o banco?'

"A beleza do ensinamento de o segredo é que há mais do que o bastante para todo o mundo. Existe esta mentira, que age como um vírus na mente da humanidade, e esta mentira é que 'não há o bastante para todo mundo'; que há falta, que há limitação, que não há suficiente. Esta mentira faz com que as pessoas vivam com medo, ganância, avareza e estes pensamentos se tornam sua experiência. Assim o mundo tomou essa pílula do pesadelo [aqui o filme mostra um contigente militar indo à guerra]. Mas a verdade é que há o bastante para todo mundo; há mais do que o bastante de idéias criativas, há mais do que o bastante de amor, há mais do que o bastante de alegria."

Idéias criativas e amor, uma ova! Citando os Beatles, as melhores coisas da vida são de graça, mas você pode deixar isso para os pássaros e abelhas; agora me dá meu dinheiro que é isso é o que quero!

É um (triste) fato, não uma mentira ou um vírus: não há recursos naturais suficientes no planeta para sustentar indefinidamente as atuais taxas de crescimento econômico, tomando como base o padrão de consumo americano. Na verdade, os economistas estimam que se toda a população do mundo de repente começasse a consumir e gerar lixo nas mesmas quantidades que os EUA, seria necessário que nosso planeta fosse seis vezes maior.

01:12:19

"Todo grande mestre que já andou por este planeta nos ensinou que a vida deveria ser abundante. E assim, toda vez que nós pensamos que os recursos estão acabando, nós achamos novos recursos para fazer a mesma coisa."

Pode ser, pode não ser. Mas provavelmente no tempo dos grandes mestres nem todo mundo sonhava em ter banheiras de hidro-massagem em casa ou Hummers na garagem.

01:14:21

"Pense nisso por um instante: pegue sua mão e olhe para ela. Sua mão parece sólida mas não é. Se você a colocar num microscópio apropriado verá uma massa de energia vibratória".

É difícil entender aonde o sujeito que disse que não sabia o que era a eletricidade quer chegar, mas mesmo que você metesse a sua mão debaixo de um Microscópio Eletrônico de Tunelamento (o que a rigor não seria possível de qualquer maneira, mas aqui eu estou sendo apenas chato), você poderia no máximo resolver os átomos que compõe a superfície da sua mão, nunca veria alguma coisa parecida com uma "massa de energia vibratória".

Só para constar: energia não é uma entidade que pode ser observada, no sentido em que se observa uma pedra caindo ou um átomo. Mal comparando é como observar o vento, você não o vê diretamente, apenas vê o seu efeito nas coisas.

01:14:33

"Tudo é feito exatamente da mesma coisa, seja sua mão, seja o oceano ou uma estrela. Tudo é energia. E deixa eu te ajudar a entender isso: existe o Universo é claro, e nossa galáxia e nosso planeta, e então tem as pessoas e dentro delas, o orgãos, e as células e então vêm as moléculas, e os átomos e dentro deles há energia. Logo, há um monte de níveis sobre os quais falar, mas no final tudo no universo é energia."

"Não importa em qual cidade você vive, você tem energia em seu corpo, energia potencial, para iluminar uma cidade inteira por aproximadamente uma semana"

Vamos começar pelo final, que parece alguma coisa que o Morpheus disse em Matrix enquanto segurava uma pilha Duracell. O Brasil consome aproximadamente 2.000 kWh por pessoa anualmente (este número é seis vezes maior nos EUA). Fazendo as contas para quanto uma cidade de 1 milhão de habitantes consumiria em uma semana, dá mais ou menos 40 milhões de kWh. Deixa eu ver... nop, não há como extrair essa energia elétrica de um único corpo humano (a não ser é claro que você se lance dentro de um reator de fissão nuclear, mas eu acho que pouca gente está disposta a fazer isso).

A NASA, que por motivos óbvios tem o maior interesse em conseguir aproveitar a energia corporal nas viagens espaciais, calcula que uma pessoa dormindo pode gerar até 81 W de energia aproveitável, uma pessoa andando 163 e um maratonista 1048, o que daria no geral, calculam, uns 11 kWh por dia. Isso dá menos de 80 kWh em uma semana (na prática esse número seria muito menor pois é impossível com os meios atuais transformar a energia corporal em eletricidade com 100% de eficiência; por exemplo, os materiais termoelétricos existentes hoje só conseguem converter 3% do calor do corpo), muito abaixo dos 40 milhões necessários para manter uma cidade.

O outro erro é dizer que a energia está dentro dos átomos. Como Einstein mostrou com sua famosa expressão E=mc^2, matéria é energia. O que isto quer dizer é que a massa pode ser considerada como uma forma de energia (mas não o contrário); isto não quer dizer que se você observar a matéria em um microscópio muito poderoso chegará ao ponto em que verá a energia.

1:17:38



"Todo o poder vem de dentro e portanto está sob seu controle."

Robert Collier

Depois de Einstein, Buda e Graham Bell você poderia se achar na obrigação de conhecer esse tal de Robert Collier. Fique tranquilo: Collier é somente mais um autor de livros de auto-ajuda bem conhecido pelos íntimos do Novo Pensamento. Citá-lo tem mais ou menos o mesmo valor que citar a própria autora de "O Segredo".

01:20



Novo festival de caretas do Fred. Parece que alguém está precisando se alinhar ao Universo ou não vai ganhar filme novo esse ano...

01:24:08

"Lembre-se que nós usamos somente 5% do potencial da mente humana. Cem por cento podem ser alcançados com treinamento adequado. Agora imagine um mundo em todas as pessoas usam totalmente seu potencial mental e emocional. Nós poderíamos ir a qualquer lugar, fazer qualquer coisa, conseguir qualquer coisa."

Já chegando ao final do filme John Hagelin lança mão do batido mito de que o homem só usa 5 ou 10% do cérebro (eu estava esperando que isso viesse mais cedo, afinal este é o maior suporte para as teorias mirabolantes sobre poder da mente).

O maior problema deste tipo de mito é que para dizer que alguém usa apenas 5 ou 10% do potencial da mente humana é preciso estabelecer quanto é 100% e ninguém imaginou ainda uma maneira de fazer isso. Por exemplo, como você vai virar para o Pelé e dizer que ele só usava 5% do potencial da mente dele para jogar futebol? Ou dizer pro Beethoven que ele só estava usando 10, ou 20, ou x porcento do potencial da mente dele quando compôs a Nona Sinfonia?

Em outras palavras, qualquer medida do potencial da mente humana será sempre arbitrária. John Hagelin por exemplo arbitrou vagamente que com 100% nós "poderíamos ir a qualquer lugar, fazer qualquer coisa". Se isso incluir a capacidade de se teletransportar para outro planeta então acho que estamos ainda muito aquém dos 5%...

O Alexandre Taschetto escreveu um ótimo artigo sobre este mito no Projeto Ockham.


1:27:41



"Sinta-se bem."




Agora que o filme acabou eu me sinto bem melhor, obrigado.


Conclusão
Guaribas no Piauí, escolhida como marco zero do programa Fome Zero, é um dos vilarejos mais miseráveis do mundo. Lá não tem água, energia elétrica, telefone público, um posto de saúde sequer, farmácia, e o esgoto corre a céu aberto.

Em Guaribas as crianças não sonham com bicicletas, sonham com água. Se as crianças de Guaribas assistissem DVDs ou conseguissem ler livros de auto-ajuda, poderiam aprender com "O Segredo" que tudo o que precisam fazer para conseguir água -- em vez de andar 14 km, ida e volta, todos os dias, às vezes duas vezes por dia, até um açude lamacento -- é contemplar diuturnamente a foto de um balde d'água. Um dia, quem sabe, o Universo providenciará para que o próprio presidente da república apareça às suas portas saltando de um reluzente caminhão-pipa.

Mas como as crianças de Guariba não sabem usar o Segredo nem têm o que comer e o que bebem é uma água barrenta infectada pelo lixo, a taxa de mortalidade infantil por lá só é comparável às das regiões mais pobres da África. A maior parte das mulheres de Guaribas já perdeu pelo menos um filho. Rhonda Byrne poderia dizer a estas mães que seus filhos ficaram doentes porque eles, ou elas, não estavam suficientemente gratos pelo que o universo lhes oferece.

Extrapole este exemplo para qualquer rincão miserável do planeta e você verá qual o verdadeiro segredo de "O Segredo": que ele não passa de uma filosofia cruel que joga sobre os desafortunados, os doentes e miseráveis toda a responsabilidade por suas mazelas, enquanto libera os felizes, saudáveis e abastados da sua responsabilidade para com os primeiros.

E difícil entender porque uma filosofia tão egoísta veiculada em um filme tão ruim faz tanto sucesso, mesmo levando em conta sua massiva estratégia de marketing (que por aqui quer fazer da Ana Maria Braga a Oprah tupiniquim, com o livrinho "O Segredo por Ana Maria Braga"). Pois se em "Quem Somos Nós" a enganação e a pseudociência ficavam muito bem escondidas do leigo pela edição alucinada, os problemas de "O Segredo" afloram à superfície de uma maneira que qualquer um minimamente escolarizado pode ver (tanto que eu sei que este Guia Cético nunca terá a mesma importância do outro, sobre "What a Bleep Do We Know").

É claro que todo mundo (inclusive eu) quer saber como ganhar dinheiro sem trabalhar, emagrecer sem fazer dieta, conseguir um corpo bonito sem malhar, ficar inteligente sem estudar e ter cabelo sem fazer transplante capilar (tá, essa só eu e mais alguns). Mas só os fãs de "O Segredo" estão dispostos a não abandonar sua credulidade por coisas bobas como lógica e bom senso.



The End.

Por que Zurdo?

O nome do blog foi inspirado no filme Zurdo de Carlos Salcés, uma película mexicana extraordinária.


Zurdo em espanhol que dizer: esquerda, mão esquerda.
E este blog significa uma postura alternativa as oficiais, as institucionais. Aqui postaremos diversos assuntos como política, cultura, história, filosofia, humor... relacionadas a realidades sem tergiversações como é costume na mídia tradicional.
Teremos uma postura radical diante dos fatos procurando estimular o pensamento crítico. Além da opinião, elabora-se a realidade desvendando os verdadeiros interesses que estão em disputa na sociedade.

Vos abraço com todo o fervor revolucionário

Raoul José Pinto



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  • A História me absolverá - Fidel Castro Ruz
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  • A Revolução antes da Revolução. As guerras camponesas na Alemanha. Revolução e contra-revolução na Alemanha - Friedrich Engels
  • A Revolução antes da Revolução. As lutas de classes na França - de 1848 a 1850. O 18 Brumário de Luis Bonaparte. A Guerra Civil na França - Karl Marx
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  • Revolução Russa - L. Trotsky
  • Sete ensaios de interpretação da realidade peruana - José Carlos Mariátegui/ Editora Expressão Popular
  • Sobre a Ditadura do Proletariado - Étienne Balibar
  • Sobre a evolução do conceito de campesinato - Eduardo Sevilla Guzmán e Manuel González de Molina

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  • 1984 - George Orwell
  • A Casa dos Espíritos, de Isabel Allende
  • A Espera dos Bárbaros - J.M. Coetzee
  • A hora da estrela - Clarice Lispector
  • A Leste do Éden - John Steinbeck,
  • A Mãe, MÁXIMO GORKI
  • A Peste - Albert Camus
  • A Revolução do Bichos - George Orwell
  • Admirável Mundo Novo - ALDOUS HUXLEY
  • Ainda é Tempo de Viver - Roger Garaud
  • Aleph - Jorge Luis Borges
  • As cartas do Pe. Antônio Veira
  • As Minhas Universidades, MÁXIMO GORKI
  • Assim foi temperado o aço - Nikolai Ostrovski
  • Cem anos de solidão - Gabriel García Márquez
  • Contos - Jack London
  • Crime e castigo, de Fiódor Dostoiévski
  • Desonra, de John Maxwell Coetzee
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  • O amor nos tempos do cólera - Gabriel García Márquez
  • O Contrato de Casamento, de Honoré de Balzac
  • O Estrangeiro - Albert Camus
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  • O jogo da Amarelinha – Júlio Cortazar
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  • Vidas secas - Graciliano Ramos
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  • A Guerra de Guerrilhas - Comandante Che Guevara
  • A montanha é algo mais que uma imensa estepe verde - Omar Cabezas
  • Da guerrilha ao socialismo – a Revolução Cubana - Florestan Fernandes
  • EZLN – Passos de uma rebeldia - Emilio Gennari
  • Imagens da revolução – documentos políticos das organizações clandestinas de esquerda dos anos 1961-1971; Daniel Aarão Reis Filho e Jair Ferreira de Sá
  • O Diário do Che na Bolívia
  • PODER E CONTRAPODER NA AMÉRICA LATINA Autor: FLORESTAN FERNANDES
  • Rebelde – testemunho de um combatente - Fernando Vecino Alegret

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  • Campesinato e territórios em disputa - Eliane Tomiasi Paulino, João Edmilson Fabrini (organizadores)
  • Cidade e Campo - relações e contradições entre urbano e rural - Maria Encarnação Beltrão Sposito e Arthur Magon Whitacker (orgs)
  • Cidades Médias - produção do espaço urbano e regional - Eliseu Savério Sposito, M. Encarnação Beltrão Sposito, Oscar Sobarzo (orgs)
  • Cidades Médias: espaços em transição - Maria Encarnação Beltrão Spósito (org.)
  • Geografia Agrária - teoria e poder - Bernardo Mançano Fernandes, Marta Inez Medeiros Marques, Júlio César Suzuki (orgs.)
  • Geomorfologia - aplicações e metodologias - João Osvaldo Rodrigues Nunes e Paulo César Rocha
  • Indústria, ordenamento do território e transportes - a contribuição de André Fischer. Organizadores: Olga Lúcia Castreghini de Freitas Firkowski e Eliseu Savério Spósito
  • Questões territoriais na América Latina - Amalia Inés Geraiges de Lemos, Mónica Arroyo e María Laura Silveira