quarta-feira, 20 de agosto de 2008

NOVO ATO DE SERVILISMO DO GOVERNO BRASILEIRO

O governo do Sr. Lula deu mais um passo na sua vassalagem ao imperialismo. Agora decidiu colaborar militarmente com os EUA nos seus exercícios de guerra contra o Iran. A fragata brasileira "Greenhalgh" já está a caminho das costas iranianas, onde atuará sob o comando estado-unidense.
Antes, no Haiti, após a derrubada do governo eleito, por meio de uma intervenção militar dos EUA & França, é a tropa brasileira que faz o trabalho sujo de reprimir o movimento popular.
Ver também: U.S. Armada En Route to the Persian Gulf: "Naval Blockade" or All Out War Against Iran? .

A humilhação da Geórgia & de Bush

Revisita à "batalha" de Tskhinvali

por Mike Whitney [*]

A Geórgia e as repúblicas indeendentes de facto.















Não há instalações militares na cidade de Tskhinvali. De facto, não há ali quaisquer objectivos militares. É um centro industrial com serrarias, fábricas de manufacturas e áreas residenciais. É também o lar de 30 mil ossetianos do Sul. Quando o presidente georgiano Mikheil Saakashvili ordenou que a cidade fosse bombardeada por aviões de guerra e artilharia pesada na última quinta-feira, ele sabia que estaria a matar centenas de civis nas suas casas e arredores. Mas ele ordenou o bombardeamento ainda assim.

Não houve "Batalha de Tskhinvali", isso é outra ficção. Uma batalha implica que há uma força opositora que resiste ou retalia. Não foi o caso ali. O exército georgiano entrou na cidade sem oposição. Afinal de contas, como podem civis desarmados travar unidades armadas? A maior parte das pessoas da cidade já fugiu para a Rússia através da fronteira ou escondeu-se nas suas caves enquanto os tanques e veículos blindados disparavam sobre qualquer coisa que se movesse.

O que se verificou na Ossétia do Sul em 7 de Agosto não foi uma invasão ou um sítio, foi um massacre. O povo não tinha maneira de se defender contra um exército moderno plenamente equipado. Foi um crime de guerra.

Em menos de 24 horas, o exército russo foi deslocado para a zona de guerra e expulsou o exército georgiano sem um combate. Michael Binyon colocou isto assim no London Guardian: "O ataque foi rápido, penetrante e mortal — o suficiente para por os georgianos em fuga num pânico humilhante".

Na verdade, os georgianos fugiram com uma tal pressa que muitas das suas armas foram deixadas para trás. Foi uma derrota completa, mais um olho negro para os conselheiros dos EUA e Israel que treinaram a corja de criminosos a que chamam de exército georgiano. Em breve vendedores nas ruas de Tskhinvali estarão a apregoar armas que foram abandonadas com um sinal de zombaria: "M-16 do exército georgiano, nunca utilizado, abandonado".

No momento em que o exército era expulso, a área central estava engolfada em chamas e os corpos daqueles que foram mortos por franco atiradores juncavam as ruas e os passeios. Muitas das pessoas que ficaram para trás eram simplesmente demasiado velhos ou doentes. Ao invés disso, eles amontoaram-se nas suas caves à espera de que o bombardeamento cessasse. Foi um banho de sangue. O único hospital da cidade foi alvejado deliberadamente e destruído; mais um crime de guerra. No fim do dia, mais de 2000 pessoas estavam mortas numa operação que foi claramente concebida com a assistência do Bush da Casa Branca. Bush considera Saakashvili como o seu principal cliente na região; eles são amigos. Ele é o instrumento da América para tarefas sujas no Cáucaso. A missão de Saakashvili era fazer com que Putin super reagisse militarmente e demonstrasse aos aliados europeus que a Rússia ainda representa uma ameaça à sua segurança nacional. Felizmente, muitos europeus vêem a artimanha e sabem que o conflito teve origem em Washington.

Na sua maior parte, os americanos ainda estão no escuro quanto ao que realmente aconteceu na semana passada. Há um grande vídeo posto a circular na Internet por um cidadão russo que vive nos EUA desde há 10 anos. Ele resume o papel dos media estado-unidenses com grande precisão. Diz ele: "Os media ocidentais – especialmente a CNN – está a alimentá-lo com excremento de cavalo. A Rússia não invadiu a Geórgia primeiro". O youtube pode ser visto aqui: http://www.youtube.com/watch?v=0c26Q-qxDEA

A cobertura dos media ocidentais tem sido péssima. Quase todo artigo e notícia de TV começa com acusações de agressão russa, escondendo o facto de que o exército georgiano bombardeou e invadiu a capital da Ossétia do Sul um dia antes de o primeiro tanque russo ter cruzado a fronteira. No momento em que os russos chegaram, a cidade já era um matadouro e milhares de pessoas estavam mortas.

Estes factos não estão em discussão por aqueles que acompanharam os desenvolvimentos quando eles se verificaram. Agora os media estão a rever os factos para instilar percepções no público, assim como eles ficcionaram as armas de destruição maciça no Iraque. Muitas pessoas pensam que a imprensa aprendeu a sua lição depois de se ter revelado que utilizou informação falsa a fim de preparar o caminho para a guerra no Iraque. Mas isso não é verdade. Os media corporativos – especialmente a Fox New, CNN e PBS (o presunçoso canal que se finge liberal) – continua a operar como o braço de propaganda do Pentágono. É vergonhoso.

Num referendo em 2006, 99% dos ossetianos do Sul disseram apoiar a independência em relação à Geórgia. Votaram 95% dos eleitores e a votação foi monitorada por 34 observadores internacionais do ocidente. Nenhum contestou os resultados. A província tem estado sob a protecção de forças de manutenção da paz russas e georgianas desde 1992 e tem sido um estado independente de facto desde então. Se Putin aplicasse o mesmo padrão de Bush no Kosovo, ele declararia unilateralmente a Ossétia do Sul como independente da Geórgia e então rir-se-ia para as Nações Unidas (Se é bom para os kosovares é bom para os ossetianos). Mas Putin e o recém-eleito presidente russo Dmitry Medvedev tomaram uma atitude conciliatória em relação à comunidade internacional e tentaram resolver a questão através de canais diplomáticos.

Ainda assim, a operação da Rússia na Ossétia do Sul acendeu uma tempestade de fogo no establishment político dos EUA e tanto democratas como republicanos estão a exigir que a Rússia "receba uma lição". Condoleeza Rice voou para Tíflis na sexta-feira e ordenou às tropas de combate russas que se retirassem da Geórgia imediatamente. Saakashvili culminou os comentários de Rice dizendo que as tropas russas eram "assassinos a sangue frio" e "bárbaras". Chega de reconciliação.

A retórica hiperbólica de Saakashvili foi seguida por um anúncio surpresa da Polónia de que havia aprovado planos de Bush para instalar o Escudo de Defesa de Mísseis (Missile Defense Shield) na Europa do Leste. O sistema é suposto defender a Europa da possibilidade de ataques dos chamados "estados vilões" como o Irão, mas o Kremlin sabe que isto é destinado a neutralizar seu arsenal nuclear.

O novos "escudo" será integrado num sistema de armas nuclear mais vasto dos EUA, colocando a maior parte das armas letais do mundo a apenas umas poucas centenas de milhas da capital da Rússia. É uma ameaça clara à segurança nacional da Rússia e nada diferente de armas nucleares em Cuba.

O presidente Medvedev fez esta declaração depois de ouvir a decisão da Polónia: "Tal decisão demonstra claramente tudo o que dissemos recentemente. A instalação de novas forças anti-mísseis na Europa é destinada à Federação Russa".

Foi o presidente Ronald Reagan, o bem amado dos neoconservadores, que decidiu remover armas nucleares de alcance curto do teatro europeu. Agora, ironicamente, é o seu herdeiro ideológico, George W. Bush, que está em vias de recomeçar a Guerra Fria colocando um sistema nuclear de alta tecnologia junto ao perímetro da Rússia. O Bush mais jovem já quebrou o compromisso do seu pai com Mikail Gorbachev de nunca expandir a NATO para além da Alemanha. Actualmente, Bush está a pressionar a fim de ganhar para a NATO dois antigos estados soviéticos, a Ucrânia e a Geórgia. Se forem aprovados, então qualquer futura disputa com a Rússia contraporá os Estados Unidos e a Europa contra Moscovo. Não é de admirar que Putin esteja a tentar sabotar o processo.

A administração Bush tem estado a planear uma confrontação com a Rússia há mais de um ano. De facto, Raw Story relatou operações conduzidas pelos militares em 14 de Julho de 2008 que provavelmente foram um ensaio geral para o actual conflito. Segundo a Raw Story:

"Na segunda-feira (14 de Julho) tropas dos EUA começaram exercícios militares próximos à fronteira russa na Ucrânia ex-soviética e estavam prontos para lançá-los na Geórgia, em meio a relações tensas entre Moscovo e Washington. Uma cerimónia que inaugurava o exercício Sea Breeze-2008 NATO foi afastada da costa ucraniana do Mar Negro devido a protestos anti-NATO e uma reacção de responsáveis na Rússia. A Sea Breeze-2008 inclui forças da Arménia, Azerbaijão, Bélgica, Grã-Bretanha, Canadá, Dinamarca, França, Geórgia, Alemanha, Grécia, Letónia, Macedónia e Turquia... Os exercícios militares conjuntos EUA-Geórgia serão efectuados na base militar Vaziani, a menos de 100 quilómetros da fronteira russa com um total de 1650 soldados a participarem".

Assim, parece que a administração Bush, a trabalhar em conjunto com o Pentágono, tinha planos de contingência para tratar de um ataque repentino com a Geórgia. A questão real é se: planearam eles iniciar estas hostilidade para avançar a sua própria agenda regional? Ninguém sabe ao certo.

Agora que o exército de Geórgia treinado pelos americanos foi humilhado frente ao mundo, Bush tenta desesperadamente salvar a face pedindo que à Rússia que permita a US Air Force entregar ajuda humanitária através de aviões militares C-17 a dezenas de milhares de georgianos que foram deslocados no combate.

[*] fergiewhitney@msn.com

O original encontra-se em http://www.counterpunch.org/whitney08162008.html


Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
17/Ago/08

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

O NEGRO NO BRASIL: NÃO SOMOS IMIGRANTES


Por João Pedro Fernandes dos Santos

Iniciando este artigo, de pronto vou fazer a seguinte afirmação: os povos da África são os únicos que chegaram ao Brasil (de modo forçado, é lógico) sem estarem, na época, sendo perseguidos pelos seus co-continentais, nem chegaram aqui pelo privilégio de seus parentes no poder central do Brasil Colônia. Eis um dos diferenciais que marcam a presença do negro no Brasil em relação às outras etnias (raças), principalmente, porque a diáspora não foi um processo de decisão dos povos da África.

Os europeus que aqui chegaram desde o descobrimento do novo mundo, quanto à decisão de saírem de sua terra natal, foi embasada na fuga das mazelas que assolavam o velho continente, sem contar com um número expressivo de criminosos e degenerados que trocaram suas condenações de diversos crimes no balcão de negócios do poder judiciário da Coroa Portuguesa, na época da colonização e início do povoamento do Brasil. Parcela destes criminosos e degenerados é a gênese da formação da elite dominante brasileira.

Nesta viagem histórica, veremos que os europeus começam a sair do velho continente a partir do ciclo das navegações, quando se inicia, na Europa, um novo processo econômico, o mercantil-colonialista (pré-capitalismo). Este se espalha pelo mundo, fazendo ruir a sociedade feudal e toda sua falsidade moral-religiosa-monarquista, abrindo espaço para um novo período histórico para a humanidade, tão escravagista quanto o anterior.

Também, é claro, fugiam das epidemias que assolavam a Europa de ponta a ponta. Em verdade, o europeu veio para o Brasil e para o novo mundo fugindo da escravidão, da falta de oportunidades, da falta de terra, da perseguição religiosa e política. Um exemplo clássico de fuga é a fuga de D. João VI, a família real e sua nobreza que aqui chegaram em 1808, “com o rabo entre as pernas”, com medo de Napoleão.

É óbvio que aqueles que mandavam no Brasil sentiam-se muito mais próximos dos seus na Europa do que dos africanos escravizados. Com esse sentimento, construíram uma política de acesso às riquezas e às terras do Brasil para sua parentada. Como afirmei no início, é o privilégio dos parentes no poder, decidindo a sorte dos seus na Europa. Um exemplo é a atitude da Princesa, Dona Maria Leopoldina, esposa do Príncipe D. Pedro I, que lhe solicita um lugar para sua gente, o povo alemão, pois este passava fome e outras dificuldades por falta de terra na Europa. Isso num contexto de política racista oficial de branqueamento do povo brasileiro, defendida pelo patriarca da independência, José Bonifácio.

É óbvio que, com a liquidação do período feudal, a concentração de terras nas mãos da ex-nobreza européia, travestida agora de liberais pré-capitalistas, não deixava espaço para os servos (indivíduo subserviente, escravos) na velha ordem econômica e política que terminava. Inevitavelmente, a saída para estes era rumarem em direção ao novo mundo. Com certeza, se fosse à elite dominante (a nobreza) que viesse para o novo mundo, assim como no período em que aqui permaneceu a família real portuguesa, a escravidão seria mais terrível e por certo, por um tempo muito mais longo.

A certeza do surto de desenvolvimento que surgiu no novo mundo com a chegada do imigrante justifica-se porque estes tinham o conhecimento de ofícios e técnicas em todas as áreas de trabalho, não havia, ainda, se submetido à divisão parcelar do trabalho da revolução industrial. E, em período mais recente, meados do século passado, muitos saíram da Europa fugindo da perseguição do nazifascismo.

Chegando aqui, os europeus tiveram a linha do horizonte como princípio e fim de sua liberdade, já não tinham mais os limites dos feudos, nem o quadrilátero dos galpões das fábricas na nova ordem de escravidão assalariada. Aqui o europeu teve todas as oportunidades que o africano não teve, já que vivia sob o rebenque da escravidão. Nesta síntese, podemos verificar que o europeu saiu da escravidão para a liberdade, ao contrário do que aconteceu com o africano, quando foi seqüestrado em seu continente era livre e aqui se torna escravo.

O africano, sob o regime de escravidão, teve que suportar, em um primeiro momento, a intenção de sua liquidação enquanto ser humano. O sistema na sua incursão comercial triangular acresceu em valor monetário o preço do individuo africano, ao mesmo tempo em que o submetia ao mais cruel processo de escravidão e esvaziava de valor a sua essência humana. Como via de regras, os castigos e suplícios tangiam o esvaziamento da essência humana do africano.

O desejo era transformá-lo em um objeto sem qualquer valor e arrancar dele toda uma tradição secular, a memória da cultura em construção até aquele momento na África. Como início desta política, a primeira decisão era liquidar qualquer traço familiar entre os africanos que chegassem ao Brasil. Isso como reforço, já que antes de saírem do continente africano, homens, mulheres e crianças eram obrigados a dar voltas em torno de uma árvore que era conhecida como “a árvore do esquecimento”.

A solução encontrada para liquidar de vez com qualquer traço familiar era organizar as senzalas de forma pluri-étnica, em um espaço habitavam diferentes povos, diferentes culturas, diferentes falares africanos, religiões de regiões distintas. A liquidação da família africana se dava pelo fato de esta ser vendida separadamente, a mãe era vendida para o norte, o pai para o sul e os filhos ninguém sabe para onde. Tal fato era importante na visão dos senhores de escravos para dificultar uma possível organização dos africanos escravizados e a possibilidade de estes se rebelarem contra seus senhores.

Os africanos escravizados e seus descendentes sofreram todos os tipos de castigos e suplícios até inimagináveis, tal brutalidade tem sua gênese na tradição inquisitorial da Igreja Católica Apostólica Romana e no caldo cultural da barbárie política expansionista do Império Romano contra aqueles povos que lutavam, impedindo os avanços do exército romano sobre seus territórios. Além, é claro, do desejo das monarquias ibéricas de uma articulação com o comércio internacional, já que Portugal e Espanha e, especialmente, Portugal vivia tempos terríveis em sua economia, era uma nação sem lastro e com todas as rotas do comércio fechadas.

Da necessidade de solucionar a crise de uma economia em frangalho na nova ordem econômica que se estabelecia, a burguesia comercial e a Coroa Portuguesa aventuram-se nesta expansão ultramarina na conquista de riquezas e nova terras. Daí resulta o tráfico humano da África e, conseqüentemente, a escravidão negra no novo mundo.

Por toda a promiscuidade patrocinada pelo senhor de escravos, na senzala, tanto aqui, como na África, penso que, por sua crueldade, esse comportamento é a gênese dos campos de concentração nazista. Por outro lado, há o positivo, tenho clareza de que a senzala é a primeira grande escola da comunidade negra em nosso país. Nela, ultrapassamos os limites da (in)existência humana, da língua, da cultura e ali aprendemos a esperança, a fraternidade e acima de tudo, a união para lutarmos contra o estatuto da escravidão.

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Desde que nossos ancestrais pisaram em solo brasileiro, foi pensando em como fugir da escravidão e voltar para Angola-Janga, voltar para a África. Lutam de todas as formas pela liberdade, o Quilombo dos Palmares é um exemplo, logo que o africano chega, começa essa luta que só terminou em 1888, quando 95% do povo negro já estava liberto. A abolição oficial não respondeu às necessidades e anseios que os escravos demandavam pelos longos anos de trabalho forçado. Não houve indenização e ainda centenas de milhares de homens e mulheres, oriundos das senzalas, foram enganados pelos senhores de escravos, pois exigiram que estes trabalhassem por mais um longo período de tempo para pagar-lhes o que o governo não lhes havia indenizado pelo fim do sistema de escravidão.

A comunidade negra, no término da escravidão, é quem deveria ser indenizada, no mínimo, deveria receber algumas glebas da terra para sobreviver e começar uma nova etapa civilizatória no Brasil. Mas o negro nem muito obrigado recebeu, enquanto os imigrantes europeus receberam animais vacum e cavalar, instrumentos para trabalhar a terra, sementes e outros materiais e ainda escolherem o lugar, a terra que lhes conviesse para morar e trabalhar.

O negro agora livre encontra lugares insalubres e distantes do centro das cidades, os morros, as favelas e cortiços, lugares sempre visados pelos órgãos de repressão e pela policia. Além, é claro, de um dispositivo institucional que o criminalizava na forma da lei por ser oriundo do sistema de escravidão, o negro era proibido de morar na cidade. Na cidade de São Paulo, por exemplo, os negros foram expulsos do centro para dar vazão ao ideário do projeto de metrópole com características européias e, até meados da década de 50, na Rua Direita, na capital paulista, havia guardas impedindo negros de transitar por ela.

Na pós-abolição, houve um reforço na política de branqueamento do povo brasileiro em que era proibido empregar homens e mulheres da raça negra em trabalhos de destaque e visibilidade, trabalhos ditos de ordem superior. Neste momento histórico, permaneciam as estruturas mentais e sociais da política escravista, reforçando os estereótipos de que ser negro, no Brasil, era ser um cidadão de segunda classe, de raça inferior. Essas condições, para o negro, representavam a continuidade, a perpetuação do passado que odiava e não podia extinguir.

O que importa ressaltar é que o negro nunca foi submisso ao sistema de escravidão, sempre se rebelou, lutou de todas as formas antes e depois da “abolição”, construindo uma visão negra da história do Brasil, sem a fantasia das elites, do poder de estado e de sua cultura positivista. Em verdade, alguns negros de visão conseguiram dar saltos de qualidade em suas vidas. Para nós, são grandes exemplos, porém individuais, no espaço de cada um, fazendo seu trabalho de chamar o povo negro para dar uma resposta ao racismo e ao preconceito da sociedade brasileira.

Mas, como veremos abaixo, o povo negro tem uma tradição de luta coletiva, mas, pelo fato de a elite brasileira estar sempre em luta intestina pelo poder central, nossas organizações sempre foram, primeiramente, cooptadas e depois, perseguidas e fechadas à força, por ordem direta de quem estava de plantão no poder central da república. Reduz-se, assim, nosso esforço coletivo a uma luta individual, tendo sempre a intenção de criminalizar o movimento negro no Brasil.

Também podemos fazer uma síntese histórica de nossas lutas coletivas em diversos momentos, desde 1535, quando chegaram os primeiros africanos no Brasil. Após vencermos todas as dificuldades das senzalas, lutamos em defesa dos Quilombos espalhados pelo Brasil, organizamos a Revolta do Malês, a Insurreição dos Haussuás, a Sociedade Secreta dos Nagôs Obgoni, a Insurreição Nagô de 1835, a dos Alfaiates, as Irmandades Religiosas Negras, a Conjuração Baiana, a Cabanagem, a Balaiada e muitas outras insurreições em que a luta foi intensa contra as forças legais, defensoras do sistema de escravidão brasileiro. Os negros combateram desesperadamente pela liberdade, preferindo morrer a se entregarem e voltarem ao cativeiro. E no início do século XX, em 1910, o negro, mais uma vez, levantou sua voz e demonstrou sua força e coragem na Revolta da Chibatas, onde se põe em pé, diante da brutalidade da Marinha Brasileira, seu líder, o marinheiro João Candido, “O Navegante Negro”.

O povo brasileiro, no século XX, principalmente na República, experienciou a força reacionária das elites (descendentes da aristocracia colonial-escravagista) no poder central e nos estados, sempre contrárias às manifestações, às lutas pela democracia e a sua participação nos espaços institucionais de nosso país. Assim, o povo em geral sofreu com a brutalidade no século XX, o que somente o negro sofreu antes e depois da abolição, brutalidade esta que foi ainda mais cruel com o povo negro, porque neste momento, há uma reafirmação da negação da memória do negro.

Não sendo suficiente a censura material, criou-se outra censura invisível, reduzindo toda a manifestação cultural-religiosa e científica do afro-brasileiro à simples manifestação folclórica. Nesta investida, o ideário racista brasileiro buscou reforço nas ciências sociais e naturais, numa ofensiva pseudo-cientifica contra a memória do afro-brasileiro. A abolição da memória do negro teve diversas formas no Brasil, reforçadas na literatura, no discurso político e no subconsciente coletivo. A idéia do bom senhor, por exemplo, e de que a sinhazinha era boa, amiga de suas escravas, além de outras formas mais sutis de castração de nossa memória pelo estupro civilizatório que sofremos.

Nossa luta hoje é coletiva, cuja meta é construirmos um projeto que nos leve a um novo patamar civilizatório, desmontando a idéia de que há um “lugar do negro” na sociedade brasileira, onde ele deva manter-se, longe das manifestações legítimas dos processos de avanços e de participação efetiva nos espaços de poder da sociedade e do Estado Brasileiro. Para tal empreendimento, defendemos as ações afirmativas, as leis de cotas nas universidades e no serviço público, a educação publica e de qualidade, investimentos substanciais no ensino superior e básico, na saúde, na habitação, na produção de alimentos, contra a monocultura e a plantação intensiva de vegetais para biodiesel e celulose, que leva a escassez e carestia de alimentos.

O resgate de nossa memória histórica enquanto negro significa a valorização de nossa contribuição positiva no desenvolvimento da cultura, da arte e das ciências no Brasil e, para aqueles que desejam nos manter em guetos e favelas e tentam reduzir nossas manifestações mais caras à pura artesania, folclore e carnaval, reafirmamos que nós nos orgulhamos de sermos afro-brasileiros e que lutaremos até as últimas conseqüências por nossos direitos humanos.

Hoje, o afro-brasileiro está inserido no seu tempo histórico, é seu principal protagonista e, certamente, imbuído da construção de uma sociedade, valorizada em princípios éticos e pluri-raciais, que leva a esta sociedade o reconhecimento dos valores negros, do espírito negro, do sangue de nossa raça, da participação negra na construção social. Tal reconhecimento é o maior acontecimento deste início de século. Este acontecimento é válido porque há milhões de negros neste continente, raiz da raça, que se tornam conscientes de seu sangue, de seu espírito e de seus direitos. Lutam diuturnamente por sua autodeterminação moral e intelectual.

Por que Zurdo?

O nome do blog foi inspirado no filme Zurdo de Carlos Salcés, uma película mexicana extraordinária.


Zurdo em espanhol que dizer: esquerda, mão esquerda.
E este blog significa uma postura alternativa as oficiais, as institucionais. Aqui postaremos diversos assuntos como política, cultura, história, filosofia, humor... relacionadas a realidades sem tergiversações como é costume na mídia tradicional.
Teremos uma postura radical diante dos fatos procurando estimular o pensamento crítico. Além da opinião, elabora-se a realidade desvendando os verdadeiros interesses que estão em disputa na sociedade.

Vos abraço com todo o fervor revolucionário

Raoul José Pinto



ZZ - ESTUDAR SEMPRE

  • A Condição Pós-Moderna - DAVID HARVEY
  • A Condição Pós-Moderna - Jean-François Lyotard
  • A era do capital - HOBSBAWM, E. J
  • Antonio Gramsci – vida e obra de um comunista revolucionário
  • Apuntes Criticos A La Economia Politica - Ernesto Che Guevara
  • As armas de ontem, por Max Marambio,
  • BOLÍVIA jakaskiwa - Mariléia M. Leal Caruso e Raimundo C. Caruso
  • Cultura de Consumo e Pós-Modernismo - Mike Featherstone
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  • Questões territoriais na América Latina - Amalia Inés Geraiges de Lemos, Mónica Arroyo e María Laura Silveira
  • Simulacro e Poder - uma análise da mídia, de Marilena Chauí (Editora Perseu Abramo, 142 páginas)
  • Soberania e autodeterminação – a luta na ONU. Discursos históricos - Che, Allende, Arafat e Chávez
  • Um homem, um povo - Marta Harnecker

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  • A Doença Infantil do Esquerdismo no Comunismo - Lênin
  • A História me absolverá - Fidel Castro Ruz
  • A ideologia alemã - Karl Marx e Friedrich Engels
  • A República 'Comunista' Cristã dos Guaranis (1610-1768) - Clóvis Lugon
  • A Revolução antes da Revolução. As guerras camponesas na Alemanha. Revolução e contra-revolução na Alemanha - Friedrich Engels
  • A Revolução antes da Revolução. As lutas de classes na França - de 1848 a 1850. O 18 Brumário de Luis Bonaparte. A Guerra Civil na França - Karl Marx
  • A Revolução Burguesa no Brasil - Florestan Fernandes
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  • A sagrada família - Karl Marx e Friedrich Engels
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  • Manuscritos econômico filosóficos - MARX, Karl
  • Mensagem do Comitê Central à Liga dosComunistas - Karl Marx e Friedrich Engels
  • Minima Moralia - Theodor Wiesengrund Adorno
  • O Ano I da Revolução Russa - Victor Serge
  • O Caminho do Poder - Karl Kautsky
  • O Marxismo e o Estado - Norberto Bobbio e outros
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  • Que Fazer? - Lênin
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  • Reforma ou Revolução - Rosa Luxemburgo
  • Revolução Mexicana - antecedentes, desenvolvimento, conseqüências - Rodolfo Bórquez Bustos, Rafael Alarcón Medina, Marco Antonio Basilio Loza
  • Revolução Russa - L. Trotsky
  • Sete ensaios de interpretação da realidade peruana - José Carlos Mariátegui/ Editora Expressão Popular
  • Sobre a Ditadura do Proletariado - Étienne Balibar
  • Sobre a evolução do conceito de campesinato - Eduardo Sevilla Guzmán e Manuel González de Molina

ZZ - Estudar Sempre/LITERATURA

  • 1984 - George Orwell
  • A Casa dos Espíritos, de Isabel Allende
  • A Espera dos Bárbaros - J.M. Coetzee
  • A hora da estrela - Clarice Lispector
  • A Leste do Éden - John Steinbeck,
  • A Mãe, MÁXIMO GORKI
  • A Peste - Albert Camus
  • A Revolução do Bichos - George Orwell
  • Admirável Mundo Novo - ALDOUS HUXLEY
  • Ainda é Tempo de Viver - Roger Garaud
  • Aleph - Jorge Luis Borges
  • As cartas do Pe. Antônio Veira
  • As Minhas Universidades, MÁXIMO GORKI
  • Assim foi temperado o aço - Nikolai Ostrovski
  • Cem anos de solidão - Gabriel García Márquez
  • Contos - Jack London
  • Crime e castigo, de Fiódor Dostoiévski
  • Desonra, de John Maxwell Coetzee
  • Desça Moisés ( WILLIAM FAULKNER)
  • Don Quixote de la Mancha - Miguel de Cervantes
  • Dona flor e seus dois maridos, de Jorge Amado
  • Ensaio sobre a Cegueira - José Saramago
  • Ensaio sobre a lucidez, de José Saramago
  • Fausto - JOHANN WOLFGANG GOETHE
  • Ficções - Jorge Luis Borges
  • Guerra e Paz - LEON TOLSTOI
  • Incidente em Antares, de Érico Veríssimo
  • Memórias do Cárcere - Graciliano Ramos
  • O Alienista - Machado de Assis
  • O amor nos tempos do cólera - Gabriel García Márquez
  • O Contrato de Casamento, de Honoré de Balzac
  • O Estrangeiro - Albert Camus
  • O homem revoltado - Albert Camus
  • O jogo da Amarelinha – Júlio Cortazar
  • O livro de Areia – Jorge Luis Borges
  • O mercador de Veneza, de William Shakespeare
  • O mito de Sísifo, de Albert Camus
  • O Nome da Rosa - Umberto Eco
  • O Processo - Franz Kafka
  • O Príncipe de Nicolau Maquiavel
  • O Senhor das Moscas, WILLIAM GOLDING
  • O Som e a Fúria (WILLIAM FAULKNER)
  • O ULTIMO LEITOR - PIGLIA, RICARDO
  • Oliver Twist, de Charles Dickens
  • Os Invencidos, WILLIAM FAULKNER
  • Os Miseravéis - Victor Hugo
  • Os Prêmios – Júlio Cortazar
  • OS TRABALHADORES DO MAR - Vitor Hugo
  • Por Quem os Sinos Dobram - ERNEST HEMINGWAY
  • São Bernardo - Graciliano Ramos
  • Vidas secas - Graciliano Ramos
  • VINHAS DA IRA, (JOHN STEINBECK)

ZZ - Estudar Sempre/LITERATURA GUERRILHEIRA

  • A Guerra de Guerrilhas - Comandante Che Guevara
  • A montanha é algo mais que uma imensa estepe verde - Omar Cabezas
  • Da guerrilha ao socialismo – a Revolução Cubana - Florestan Fernandes
  • EZLN – Passos de uma rebeldia - Emilio Gennari
  • Imagens da revolução – documentos políticos das organizações clandestinas de esquerda dos anos 1961-1971; Daniel Aarão Reis Filho e Jair Ferreira de Sá
  • O Diário do Che na Bolívia
  • PODER E CONTRAPODER NA AMÉRICA LATINA Autor: FLORESTAN FERNANDES
  • Rebelde – testemunho de um combatente - Fernando Vecino Alegret

ZZ- Estudar Sempre /GEOGRAFIA EM MOVIMENTO

  • Abordagens e concepções de território - Marcos Aurélio Saquet
  • Campesinato e territórios em disputa - Eliane Tomiasi Paulino, João Edmilson Fabrini (organizadores)
  • Cidade e Campo - relações e contradições entre urbano e rural - Maria Encarnação Beltrão Sposito e Arthur Magon Whitacker (orgs)
  • Cidades Médias - produção do espaço urbano e regional - Eliseu Savério Sposito, M. Encarnação Beltrão Sposito, Oscar Sobarzo (orgs)
  • Cidades Médias: espaços em transição - Maria Encarnação Beltrão Spósito (org.)
  • Geografia Agrária - teoria e poder - Bernardo Mançano Fernandes, Marta Inez Medeiros Marques, Júlio César Suzuki (orgs.)
  • Geomorfologia - aplicações e metodologias - João Osvaldo Rodrigues Nunes e Paulo César Rocha
  • Indústria, ordenamento do território e transportes - a contribuição de André Fischer. Organizadores: Olga Lúcia Castreghini de Freitas Firkowski e Eliseu Savério Spósito
  • Questões territoriais na América Latina - Amalia Inés Geraiges de Lemos, Mónica Arroyo e María Laura Silveira